Fragmento 142


É num encontro inesperado que percebemos como nos perdemos um do outro. Sem o menor consentimento do tempo, atiramos a culpa na vida, quando na verdade fomos nós que decidimos trilhar o caminho escolhido. E parece que só nos damos conta disso quando percebemos uma ruga disfarçada no rosto do outro. A verdade é que a imagem da expressão suave que contorna o canto da boca, aquela que acostumamos a ter como lembrança intacta, memória dos velhos tempos, alivia-nos da dor do tempo e é a denúncia desnuda de que a vida segue sem necessariamente ter como enredo a doçura de outros tempos. Um sorriso estampado, muitas vezes calejado das desventuras do destino, é o que resta em uma cena roubada do próprio destino, preso a um lampejo de intenção frustrada pela falta de coragem ou ousadia em querer se arriscar. A morte é uma personagem de várias faces. E se acomodar é o pior dos suicídios.

Alecto Grego