Qual a classificação gramatical de 'por isso'?


A resposta foi enviada ao site Ciberdúvidas da Língua Portuguesa pelo professor Jorge Baptista, da Universidade do Algarve:

A expressão por isso:

1. Não é uma locução (no sentido em que este termo designa unidades lexicais compostas por mais de uma palavra), mas, sim, duas unidades lexicais. Compare-se as expressões compostas e as locuções “por isto e por aquilo”, “por tudo e por nada” etc. Estas, sim, expressões fixas e idiomáticas (ou locuções). As palavras por e isto formam um complemento preposicional, com valor adverbial (causa), modificando a oração ou frase em que se encontra.

2. As frases com “por isso” podem ser regularissimamente derivadas a partir de “O Pedro fez isso por isso”, por anteposição do complemento causal: “Por isso, o Pedro fez isso”.

3. O pronome indefinido “isso” tem valor deítico e/ou anafórico, referindo-se a (um trecho do) discurso anterior.

4. Dada a sua natureza adverbial como modificador de toda a frase, “por isso” tem grande mobilidade na frase. Por outro lado, não é afetado pela negação do predicado da frase onde se encontra: “Por isso, o Pedro (não) fez isso”.

5. Devido ao valor anafórico de “isso”, a frase só pode ser produzida depois de o antecedente de “isso” ter sido expresso no discurso anterior.

6. Dada a relação anafórica que se estabelece com esse discurso, a expressão, com valor adverbial, assemelha-se a advérbios com valor conjuncional, isto é, advérbios cuja função se assemelha a das conjunções, mas, ao contrário destas, em vez de ligarem orações dentro da mesma frase, ligam a frase em que se encontram à frase ou discurso anterior. Outros exemplos: consequentemente, assim etc.

7. O termo conector é mais vago do que o conceito de categoria gramatical advérbio, pois uma preposição também é um elemento conector (entre os constituintes de uma frase), tal como a conjunção o é entre orações. A vagueza (vacuidade?) terminológica em nada contribui para a clareza dos conceitos.

8. Finalmente, a confusão com o conceito de locução pode ser devida a palavras como “portanto”, com um valor adverbial e um significado semelhante, formada igualmente pela preposição “por” e pelo pronome indefinido “tanto” (hoje quase em desuso) e cuja ortografia aglutinada (ainda que irrelevante para a determinação das propriedades formais e semânticas da expressão) parece indicar que o processo de cristalização já estará mais avançado ou já se terá mesmo consumado.