Amig'o' tem vogal temática?


A vogal temática vem imediatamente após o radical.

A vogal temática liga o radical à desinência de número ou aos sufixos. Com ela, a palavra passa a ter um bom som (eufonia). 


Veja algumas informações importantes sobre as vogais temáticas (nos nomes e nos verbos):


Vogal temática nominal 

O radical + vogal temática recebe o nome de tema

beij (radical) + o (vogal temática) = beijo (tema). 


As VTs -a, -e, -o, quando átonas finais, como em casa, leve, povo, são vogais temáticas nominais. É a essas VTs que se liga a desinência indicadora de plural ou sufixos: povo-s, leve-s, casa-s; povo-ado, leve-mente, casa-mento.


1) O -a só será desinência de gênero se opuser masculino a feminino (garoto/garota). 

2) As VTs -e e -o podem aparecer como semivogal de um ditongo (pão/pães).

3) Tomando o -o como VT, ele pode aparecer num tema simples ou depois de um sufixo: leilão > leiloeiro.


Os nomes terminados em consoante ou em vogal tônica são atemáticos, ou seja, não formam temas, pois não têm vogal temática: cor, raiz, cajá, Pelé, tupi, cipó, baú etc.


As palavras terminadas em -r e -z e algumas terminadas em -l, -n, -s apresentam -es como terminação de plural: hambúrgueres, flores, vezes, gravidezes, males, cônsules, hífenes, glútenes, meses, deuses etc. Alguns estudiosos até se atrevem a dizer que -es é desinência de número, mas a esmagadora maioria está convencida de que apenas -s é desinência de número! 

Logo, em hambúrgueres, flores, vezes, gravidezes, males, cônsules, hífenes, glútenes, meses, deuses, o -e é apenas uma vogal temática. Interessante é a palavra sal, que, no plural, tem a vogal temática nominal alomórfica (de e para i): sal > sales > saes > sais.


Vogal temática verbal

É uma vogal que vem após o radical (a, e, i), formando o tema e permitindo uma boa pronúncia do verbo. Indica como vai ser o modelo (paradigma) das conjugações (1ª conjugação: -a/ 2ª conjugação: -e / 3ª conjugação: -i).

IMPORTANTE

É bom dizer que não há vogal temática na 1ª pessoa do singular do presente do indicativo e em nenhuma flexão do presente do subjuntivo (em "Eu amo", o -o é desinência número-pessoal (DNP); em "Espero que ele volte" ou "Espero que ele beba", o -e e o -a são desinências modo-temporais (DMTs). 


Vejamos as VTs verbais:

amar: Eu amei, tu amaste, ele amou, nós amamos, vós amastes, eles amaram (pretérito perfeito do indicativo).

Observação

Como você percebeu, esta VT sofreu alomorfia na 1ª e na 3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo. Em todos os demais tempos, a vogal temática não muda, é sempre -a.


comer. Eu comia, tu comias, ele comia, nós comíamos, vós comíeis, eles comiam (pretérito imperfeito do indicativo) / Eu havia comido (particípio).

Como você percebeu, esta VT sofreu alomorfia em toda a conjugação do pretérito imperfeito do indicativo e no particípio. Em todos os demais tempos, a vogal temática não muda, é sempre -e.

Há exceções na conjugação de verbos terminados em OER, por exemplo.


partir: Eu parto, tu partes, ele parte, nós partimos, vós partis, eles partem... (presente do indicativo).

Observação

Como você percebeu, esta VT sofreu alomorfia na 2ª pessoa do singular e na 3ª do singular e do plural do presente do indicativo. Na 1ª p. pl., o i é VT. Na 2ª p. pl., o i não é vogal temática, e sim desinência número-pessoal. Há exceções na conjugação de verbos terminados em UIR, por exemplo. 


O verbo pôr e seus derivados são de 2ª conjugação, ou seja, vogal temática -e, uma vez que pôr vem do latim poer (a vogal temática aparece logo na 2ª pessoa do singular do presente do indicativo: eu ponho, tu pões, ele põe...).


Amigo possui vogal temática?

Gramáticos importantes (Mattoso Câmara Jr., Manuel P. Rilbeiro, J. C. Azevedo, C. P. Luft, L. A. Sacconi, Rocha Lima etc.) entendem que não existem desinência de gênero masculino, o -o de amigo seria, para eles, uma vogal temática. Eles argumentam que muitas palavras não terminam em -o e, mesmo assim, marcam o gênero masculino da palavra: mestre (mestra), elefante (elefanta), presidente (presidenta), cantor (cantora), juiz (juíza) etc.

Essa análise faz sentido, pois, se não há terminação específica para indicar o gênero, por que encarar o -o como desinência de gênero? Ou, então, será preciso admitir que o -e também é desinência de gênero masculino. Trocando em miúdos, só existe a desinência de gênero feminino (-a). Assim como a palavra no singular não tem desinência para marcar o singular, o mesmo se dá com a palavra no masculino, isto é, sabe-se que uma palavra está no masculino porque há uma correspondência no feminino. 

Sabe-se que -o pode ser 

1) desinência de gênero masculino ou 2) vogal temática. 

Dependerá da visão do gramático. Além disso, nunca é demais dizer que existem palavras que fogem à "regra" da desinência: atriz, condessa, poetisa, czarina, chinesa (as terminações (sufixos, para alguns linguistas) -riz, -essa, -isa, -ina, -esa indicam o gênero feminino); avó (o timbre aberto indica o gênero feminino); cabra, vaca, nora, mulher (outro radical para indicar o gênero feminino; heteronímia). Como se viu, não existem só as desinências de gênero como forma de marcar o gênero da palavra e, consequentemente, o sexo, no caso de ser humano ou animal, é claro.