Linguagem, língua e sociedade


A linguagem é uma peculiaridade do ser humano que o distingue do animal irracional, uma vez que o homem elabora o seu código de comunicação, podendo interferir de acordo com as intenções que existem na situação comunicativa. Para tanto, dispõe de vários sistemas semióticos, entre eles o sistema linguístico

A linguística é definida, de modo geral, como a disciplina que estuda a linguagem. Mas o que é linguagem? Esse termo pode ter vários sentidos. Alguns linguistas atribuem-no a qualquer processo e comunicação, como a linguagem dos animais, a linguagem corporal, a linguagem computacional, a linguagem das artes, entre outras.

Essa ciência privilegia bases teóricas e metodológicas interdisciplinares e multidisciplinares, tais como a aquisição da linguagem, a linguística de texto, a linguística do discurso, a linguística da conversação e a linguística da enunciação. A partir do prisma da pragmática, os estudiosos da língua voltam-se para o uso efetivo, de forma que abra novas perspectivas de investigação.

Entende-se que a linguagem humana é definida por diferentes naturezas, tais como a cognitiva, a social, a ideológica, a cultural, a linguística, entre outras. Todas necessitam ser consideradas no ensino da língua. A linguística, enquanto ciência, apresenta diferentes abordagens teóricas que se diferenciam no modo de compreender o fenômeno da linguagem. Entre os estudiosos é necessário estabelecer a diferença entre língua e linguagem. Os seres humanos são os únicos dotados de linguagem como uma habilidade de se comunicar por meio da língua. Desse modo, o termo língua refere-se a um sistema de signos utilizado na comunicação em sociedade.

Como o ser humano é um ser social e, portanto, múltiplo, o fenômeno da linguagem é abordado pelos linguistas, cientistas que estudam a língua, de várias maneiras, e cada abordagem incorpora características diferentes no tratamento da linguagem humana.

Os estudos linguísticos passaram a ter expressão a partir de Saussure, na década de 1920, quando propôs um estudo da língua enquanto sistema, ou seja, ele e seus discípulos estudaram a língua em uma visão unidisciplinar, sem levar em conta o falante dessa língua.

Saussure foi o precursor dos estudos linguísticos na Suíça. Seus discípulos, alunos, publicaram mais tarde o livro Curso de linguística geral, em que reuniram a teoria do mestre. Todavia, a natureza da linguagem é heteróclita (multidisciplinar), apresentando várias faces: social, psíquica, histórica, antropológica etc., o que levaria cada uma a ser objeto de um estudo diferenciado, em razão do enfoque pressuposto.

Heteróclito: termo utilizado por Saussure para a linguagem, uma vez que seus estudos são da langue (língua enquanto sistema, conjunto de regras), e não da parole (língua em uso). Até a década de 1960, o objeto de estudo é a língua nessa visão unívoca, o que origina dois paradigmas, o estruturalista e o gerativo-transformacionalista. Até essa época, os estudos foram feitos na dimensão da frase, seja pelos estruturalistas, seja pelos gerativo-transformacionalistas.

Para os primeiros, o objeto da linguística é o estudo do sistema da língua, e, para os outros, o objeto é a gramática da competência linguística de um falante ideal. Ambos operaram, metodologicamente, com a unidisciplinaridade, e o objeto examinado foi a língua fora do uso, tratada de forma ideal e abstrata.

Todavia, a partir da década de 1960 ocorre um conjunto de insatisfações, na medida em que a dimensão da frase não é adequada para explicar a produtividade da linguagem humana. A mudança ocorrida nessa época implica que o objeto da linguística passe a ser o uso efetivo da língua, de forma que se investiguem os processos de produção relativos ao texto e ao discurso. Tal mudança de objeto implica mudança teórica e metodológica. No que se refere à mudança teórica, a linguagem torna-se complexa e exige uma diversidade de prismas para o seu tratamento, tais como o linguístico, o cognitivo, o social, o histórico, o cultural, o ideológico. No que se refere à mudança metodológica, necessária para o procedimento científico desses diferentes prismas, a unidisciplinaridade é substituída por interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade.