Como usar a locução adverbial 'em alerta'?


Segundo o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, de José Pedro Machado, a palavra alerta pode ser um advérbio (equivalente "com vigilância"), um adjetivo dos dois gêneros ("vigilante"), um substantivo masculino ("sinal para se estar vigilante") e uma interjeição ("cautela!", "sentido!", "cuidado!"). O mesmo dicionário não regista a locução "em alerta", tal como outros (cf. Dicionário Houaiss, Dicionário Unesp do Português Contemporâneo, Aulete Digital).

No entanto, não é impossível a locução adverbial "em alerta", porque alerta pode ser substantivo precedido por preposição. Além disso, consultando o Corpus do Português, encontra-se uma ocorrência da locução "em alerta" num texto do século 19, o célebre romance Escrava Isaura, do escritor brasileiro Bernardo Guimarães:

Leôncio, portanto, não só encarcerava com todo o rigor a sua escrava, como também armou todos os seus escravos, que daí em diante distraídos quase completamente dos trabalhos da lavoura, viviam em alerta dia e noite como soldados de guarnição a uma fortaleza. 

A locução, portanto, não é assim tão recente em língua portuguesa. Além disso, em Portugal, com a proliferação de avisos relativos à prevenção de incêndios ou ao estado do tempo, aumentou o número de ocorrências como "estado de alerta", a qual pode dar passo a "estar em alerta".

Não pode, portanto, afirmar-se que "em alerta" seja expressão incorreta.

Quanto a substituir morrer por "perder a vida", e outros casos semelhantes, trata-se de usos eufemísticos que, não sendo ilegítimos, correm o risco de se tornarem repetitivos em certos registos, sobretudo o jornalístico. Mas, mais uma vez, é de frisar que estamos a tratar de expressões fixas em português: emprega-se "com vida" em alternativa a "vivo", porque a tradição assim o fixou; o mesmo não aconteceu com morto, porque não se criou a expressão "com morte".