Você suportou ler 'Salvar o Fogo'?


A história

Moisés, uma criança que vive em Tapera do Paraguaçu, comunidade rural na Bahia, divide seus dias com o pai, Mundinho, e sua irmã, Luzia. Os outros irmãos se viram obrigados a deixar a casa cedo em busca de melhores oportunidades de vida. O povoado onde eles vivem, habitado por agricultores, pescadores e ceramistas de origens afro-indígena, vive sob o poderio da Igreja Católica, dona de um mosteiro secular. 

Órfão de mãe, Moisés constrói uma relação difícil, regida com rigorosidade, com Luzia, que é discriminada pela sua deficiência e ganha fama de ser amaldiçoada com poderes sobrenaturais. Ainda que maltratada pelo mundo, Luzia nutre esperanças de algum dia reunir a família novamente. Um acontecimento que abala a família é a oportunidade dada pelo destino de um reencontro entre todos eles

Crítica

É facilmente perceptível que ambas as obras de Itamar Vieira Jr. dialogam entre si em diversos momentos e sentidos, inclusive com a presença da personagem Belonísia, de Torto Arado, evocada em Salvar o Fogo. Se em Torto Arado o autor trata diretamente de racismo estrutural e da herança da escravidão no país, em Salvar o Fogo Itamar se aprofunda na complexidade de problemas crônicos na sociedade brasileira ao revelar a violência simbólica e institucional. 

Há outro ponto em comum entre os dois romances que é o teor fulcral de aflições com narrativas das mazelas sociais que atormentam e dilaceram almas humanas. O leitor é capaz de suportar tanto sofrimento? A leitura de Salvar Fogo é mais difícil de sustentar sem uma incômoda reflexão, mas necessária a quem busca na literatura qualquer grau de humanidade.