O que significa saber português?


Muita gente acredita que saber português é dominar formalmente os conceitos de gramaticalidade na língua, que considera que o falante produz enunciados gramaticalmente adequados, independentemente de ter aprendido na escola como se organiza essa língua.

Podemos dizer que nós, independente de termos qualquer formação educacional, sabemos português, ou seja, conhecemos e nos comunicamos por meio de estruturas gramaticais adequadas, internalizadas com base em toda a nossa vivência sociocultural. Estudiosos dizem que saber português significa não apenas ter o domínio inconsciente das estruturas gramaticais, das regras que regem essas estruturas e do léxico, mas também ter o domínio de normas socioculturais de comportamento que nos possibilitam interagir uns com os outros. Saber português não é a mesma coisa que dominar a nomenclatura gramatical registrada pelas gramáticas normativas nem saber explicar as construções gramaticais.

Se pensarmos em uma língua estrangeira, podemos considerar a mesma reflexão: saber uma língua estrangeira não significa somente conhecer sua estrutura, mas ser capaz de comunicar-se nessa língua, de entendê-la como manifestação social e cultural, acima de tudo. Cabe, então, nossa reflexão sobre por que se ensina, nas escolas, a língua portuguesa.

Por que ensinar português para brasileiros?

Certamente, todo estudante brasileiro sabe português. Ele pode até utilizar a língua sem o rigor em relação à gramática normativa (à língua padrão), mas seria preconceituoso de nossa parte dizer que esse estudante não sabe português.

Podemos dizer que, sim, ele demonstra sua competência linguística de diferentes maneiras ao longo de sua escolaridade e, por que não, de sua vida? Isso revelado na escola indicaria ao professor o quanto o aluno é capaz ou não de participar de distintos eventos sociocomunicativos. Muito claramente, Oliveira, um estudioso, exemplifica esses aspectos: um aluno, dependendo da idade e série, não saberia como “se comportar linguisticamente em uma entrevista de emprego”, ou não saberia “redigir um curriculum vitae”, dentre outros atos linguísticos, mas, ainda assim, saberia português.