Violões que choram


Violões que choram
 é um poema do escritor brasileiro Cruz e Sousa, considerado um dos maiores expoentes do Simbolismo no Brasil. O poema é uma obra melancólica e intimista, refletindo sobre temas como a solidão, a arte e a expressão das emoções.

A seguir, farei uma análise do poema, destacando alguns aspectos importantes:


Violões que choram

Violões em pranto - lágrimas ardentes,

Em surdina gemendo e soluçando,

São como a voz plangente, dolorida,

Dos que morreram e estão agonizando.

O poema começa com a imagem dos "violões em pranto", personificados como seres humanos que choram. Aqui, o autor estabelece uma comparação entre o som melancólico dos violões e a voz daqueles que estão sofrendo e morrendo. Essa comparação sugere uma conexão profunda entre a arte (representada pelos violões) e as emoções humanas, como se a música fosse capaz de expressar os sentimentos mais profundos e intensos.


**E as cordas, como fios nervosos, vibram,

Na comoção dos soluços lancinantes,

Sofrendo, como a carne dos que sofrem

Nas atrozes paixões lancinantes...

Aqui, o poeta descreve poeticamente as cordas do violão como "fios nervosos" que vibram e sofrem junto com os soluços lancinantes da música. Essa imagem intensifica a conexão entre o instrumento musical e a experiência humana de sofrimento, fazendo com que os violões se assemelhem à carne daqueles que experimentam "atrozes paixões lancinantes".


**Em sangue e pranto, o espírito dolorido

Sofre e treme de dor, na dor imerso,

Nas cordas com que o gênio imortal e puro

Chorou a Dor, a Dor do Universo...

O poema continua a explorar a ideia de que a música expressa uma profunda dor e sofrimento. O espírito humano é descrito como "dolorido", mergulhado em "sangue e pranto", enfatizando a intensidade do sofrimento. Nesse contexto, os violões são associados ao "gênio imortal e puro" que chorou a dor do universo, sugerindo que a arte é uma forma de expressão transcendental que reflete a dor universal da existência humana.


**Eles vão a chorar, levando o pranto

Nos gemidos em que a Dor se desespera,

Como a noite nos ombros roxos, trêmulos,

De vaga-lumes tristes e da espera...

O poeta enfatiza a expressividade dos violões que, como mensageiros da dor, levam consigo o pranto e os gemidos desesperados daqueles que sofrem. A imagem da noite nos ombros roxos, trêmulos, dos vaga-lumes tristes e da espera, sugere a solidão e a melancolia que permeiam a cena, associando-se ao sentimento de tristeza expresso na música.


**E quando os violões plangem nas tristezas

De um olhar que se perde e que se olvida,

Parece que soluçam de incertezas,

De anseios infinitos, de infinita vida...

O poema conclui com uma reflexão sobre o poder expressivo dos violões. O choro dos instrumentos musicais parece ecoar as tristezas de um olhar perdido e esquecido, sugerindo a sensação de abandono e solidão. Porém, ao mesmo tempo, os violões soluçam de incertezas e anseios infinitos, evocando a ideia de que a arte transcende o sofrimento e abre espaço para a possibilidade de uma vida infinita, simbolizada pela imortalidade da criação artística.

Em "Violões que choram", Cruz e Sousa cria uma atmosfera poética carregada de simbolismo e sentimentos profundos. O poema explora a conexão entre a música, o sofrimento humano e a capacidade da arte de expressar emoções universais. Ao longo dos versos, somos levados a refletir sobre a natureza da dor e da melancolia, bem como o papel da arte como uma forma de catarse e transcendência da experiência humana. A musicalidade dos versos e a linguagem simbólica são características marcantes do estilo de Cruz e Sousa e contribuem para tornar "Violões que choram" uma obra poética rica e significativa.