Carlos Drummond de Andrade: as fases de sua obra
Primeira fase: "Gauche" (Geração de 1930): Consciência e isolamento
Obras: "Alguma poesia" (1930) e "Brejo das almas" (1934)
Formalmente ainda se empregam recursos da 1ª geração modernista como a ironia, o humor, o poema-piada, a síntese, a linguagem coloquial (informal) etc.
No conteúdo, o que caracteriza essencialmente essa fase é o "gauchismo" da maioria dos poemas. A palavra "gauche", de origem francesa, significa "lado esquerdo". Aplicada à dimensão humana, significa o ser às avessas, o torto, aquele que não consegue estabelecer uma comunicação com a realidade em redor, com o establishment. Nesta fase são comuns certos traços como o pessimismo, o individualismo, o isolamento, a reflexão existencial, além de certas atitudes permanentes, que se estenderão por toda a obra de Drummond, como a ironia e a metalinguagem.
Segunda fase: Social (1940-1945)
Obras: "Sentimento do mundo" (1940), "Poesias" (1942), "A rosa do povo" (1945)
Nessa fase, o eu-lírico de seus poemas manifesta interesse pelos problemas da vida social, da qual estivera até então isolado. Essa mudança de postura diante da realidade relaciona-se aos fatos ocorridos no período de gestação das obras que compõem a segunda fase:
- Ascensão do nazi-fascismo;
- Guerra civil espanhola;
- Segunda Guerra Mundial;
- Guerra Fria (EUA X URSS);
- Intentona Comunista (Brasil - 1935);
- Ditadura de Getúlio Vargas (Brasil - 1937/45);
A adesão do poeta aos problemas do seu tempo e o sentimento de solidariedade em relação às frustrações e às esperanças humanas levam-no a realizar a melhor poesia social brasileira do século XX.
Terceira fase: A do "Não" (anos 50 e 60)
Obras: "Claro enigma" (1951), "Fazendeiro do ar" (1955) , "Vida passada a limpo" (1959) e "Lição de coisas"(1962)
Nessa fase, a poesia de Drummond segue duas orientações: de um lado, a poesia reflexiva, filosófica e metafísica - em que, com frequência, aparecem os temas universais de caráter existencial, como vida, morte, velhice, tempo, amor e os temas sempre presentes, como a família, a infância e a própria poesia (metalinguagem), todos eles seguindo uma linha de pensamento extremamente pessimista. De outro lado, a poesia nominal, com tendências ao Concretismo, em que o poeta ressalta a preocupação com recursos fônicos, visuais e gráficos do texto.
Quarta fase: A da memória (anos 70 e 80)
Obras: Série "Boitempo", "As impurezas do branco", "Amor amores", "Discurso de primavera", "A paixão medida", "Corpo", "Amor", "Sinal estranho".
Nessa fase, a obra de Drummond dá um amplo destaque ao universo da memória, em que, ao lado de temas universais, são retomados e aprofundados certos temas que nortearam toda a sua obra, tais como a infância, a terra natal (Itabira), o pai, a família etc.