Meus anos de amor lírico e a bossa nova


Incontestavelmente, o fim dos anos 1990 e, principalmente, o início dos anos 2000 foram os meus anos de ouro no Brasil, regidos pela batuta da poesia de Vinícius de Moraes e do calor da bossa nova. Como um jovem recém-saído da puberdade, eu era espirituoso demais para a minha tenra idade; já era moço feito. Menino-homem. E, por isso, podia ignorar tudo o que acontecia a minha volta. Naquele tempo, não me cabia tantas preocupações, pois sobrepunham àquela época todas as coisas da mocidade, da juventude, do acreditar ser poderoso a ponto de pensar ser dono do mundo.

Foi naquela mesma época que, inesperadamente, o amor chegou em forma de poesia musicada pela bossa nova. Foi assim também que descobri a dor do amor. A doce miséria que é amar. Naquele instante, eu redescobri um sentimento quando já parecia desbotado o bastante para se tornar obsoleto. Conheci Vinícius de Moraes e a sua proeza de aliar a poesia dos livros à música popular. O amor, como sentimento do sofrer alegremente, se torna o escopo, como uma emoção rejuvenescida e eterna.

Trata-se, portanto, de um recorte do tempo em que a alegria, a tristeza, o ciúme, a devoção absoluta e o encantamento encabeçavam um lento e longo aprendizado sobre o amor. Neste primeiro momento, o amor surge como sentimento nobre, à custa do sofrimento, distante das experiências chãs, do cotidiano. Do mesmo modo, é sem quaisquer fronteiras classificatórias que me vejo unir a poesia aos desejos carnais, por meio de um erotismo poético. Ainda muito jovem para se preocupar com quaisquer necessidades materiais, vivi os verões no litoral com intensidade, venerando o mar e o entardecer como um ritual que conferia um significado especial para mim.

E é desse modo que o livro Todo Amor, de Vinícius de Moraes, uma coletânea que reúne poemas, letras de música, crônicas e cartas do autor, resgata esse tempo em que vivi, e, sobretudo, o amor como tema central dessa obra que trata de forma visceral a poesia de Moraes, passando por variações do amor sublime e, portanto, idealizado, trazendo como consequência o sofrimento e as possibilidades de uma separação sofrida. Mas é possível encontrar também o amor travesso e o amor erotizado, muito bem tratado pelo escritor.

Tudo o que foi escrito pelo poeta e apresentado na coletânea não segue uma ordem cronológica, o que não deixa a obra menos encantadora. Pois o ardor do sentimento pode ser sentido pela intensidade do poeta que reinventou o amor. A poesia de Vinícius de Moraes requer sensibilidade por parte de quem a consome. E foi por meio dela e com a benção do Cristo Redentor que senti a maciez da pele e o cheiro agraciado a cada uma delas. As luzes da cidade, com os seus carros enfileirados na orla, o ritmo do trânsito e o som melancólico do saxofone sempre regendo todos aqueles dias.