Terceira Geração Modernista - 3.ª Fase do Modernismo


A terceira geração modernista, terceira fase do modernismo ou fase pós-modernista representa o último momento do movimento modernista no Brasil. Também chamada de “Geração de 45”, a última fase do modernismo começa em 1945 e se estende até 1980.

Alguns estudiosos preferem apontar o fim do modernismo na década de 1960. Outros, ainda, afirmam que o modernismo está presente até os dias atuais.

Os escritores desse período possuíam uma atitude mais formal, em oposição ao espírito radical, contestador e de liberdade desenvolvido na Semana de 1922.

Contexto Histórico

O momento em que surge a terceira geração modernista no Brasil, é o período menos conturbado em relação às outras duas gerações. Ou seja, é a fase de redemocratização do país, visto que em 1945 termina o Estado Novo (1937-1945) que fora implementado pela ditadura de Getúlio Vargas.

Em nível mundial, o ano de 1945 é também o fim da segunda guerra mundial e do sistema totalitário do Nazismo. Entretanto, tem início a Guerra Fria (Estados Unidos e União Soviética) e a Corrida Armamentista.

As principais características da terceira geração modernista são:

- Academicismo;

- Passadismo e retorno ao passado;

- Oposição à liberdade formal;

- Experimentações artísticas (ficção experimental);

- Realismo fantástico (contos fantásticos);

- Retorno à forma poética (valorização da métrica e da rima);

- Influência do Parnasianismo e Simbolismo;

- Inovações linguísticas e metalinguagem;

- Regionalismo universal;

- Temática social e humana;

- Linguagem mais objetiva.

Prosa Modernista

Lembre-se que o Modernismo no Brasil está dividido em três gerações, sendo a prosa o tipo de texto mais explorado na terceira fase. De tal modo, os tipos de prosa do período são classificados segundo sua temática:

Prosa Urbana

A principal caraterística da prosa urbana é sua ambientação nos espaços da cidade, em detrimento do campo e do espaço agrário. Nesse estilo destaca-se a escritora Lygia Fagundes Telles.

Prosa Regionalista

A prosa regionalista absorve, por outro lado, aspectos do campo, da vida agrária, da fala coloquial e regionalista, por exemplo, na obra de Guimarães Rosa.

Prosa Intimista

Por sua vez, a prosa intimista é determinada pela exploração de temas humanos e, portanto, é mais íntima, psicológica e subjetiva. Esses aspectos são observados nas obras de Clarice Lispector e de Lygia Fagundes Telles.

Poesia Modernista

Ainda que a prosa tenha sido o tipo de texto mais explorado na terceira geração modernista, a poesia é apresentada mediante aspectos de equilíbrio.

Por isso, os poetas dessa fase eram chamados de “Neoparnasianos”, ao fazerem referência as principais características da poesia parnasiana:

- preocupação com a estética;

- metrificação e versificação;

- busca da perfeição;

- culto à forma.

Os principais autores e obras dessa fase são:

João Cabral de Melo Neto (1920-1999): conhecido como “poeta engenheiro”, João se destacou na prosa e na poesia pelo rigor estético apresentado em suas obras: "Pedra do Sono" (1942), "O Engenheiro" (1945) e "Morte e Vida Severina" (1955).

Clarice Lispector (1920-1977): se destacou na prosa e na poesia com um caráter lírico e intimista: "Perto do Coração Selvagem" (1947), "A Cidade Sitiada" (1949), "A Paixão Segundo GH" (1964), "A Hora da Estrela" (1977).

João Guimarães Rosa (1908-1967): foi um dos maiores poetas do Brasil, sendo que a maioria de suas obras são ambientadas no sertão. Destacam-se "Sagarana" (1946), "Corpo de Baile" (1956), "Grande Sertão: Veredas" (1956), "Primeiras Estórias" (1962)

Ariano Suassuna (1927-2014): Defensor da cultura popular brasileira, Suassuna escreveu romances, peças de teatro e poesias dos quais se destacam: "Os homens de barro" (1949), "Auto de João da Cruz" (1950), "O Rico Avarento" (1954) e "O Auto da Compadecida" (1955).

Lygia Fagundes Telles (1923-2022): escreveu romances, contos e poesias sendo uma de suas marcas a exploração psicológica das personagens em sua obra: "Ciranda de Pedra" (1954), "Verão no Aquário" (1964), "Antes do Baile Verde" (1970), "As Meninas" (1973).

MAIS

João Cabral de Melo Neto:

É autor de poemas arquitetados segundo modos de composição que não privilegiam a expressão emotiva do eu-lírico.

Do conjunto da sua obra, em grande parte traduzida para diferentes idiomas, destacam-se A Educação pela Pedra, O Cão sem Plumas e O Rio.

Escreveu Morte e Vida Severina, texto que foi musicado por Chico Buarque de Holanda.

Por meio de uma linguagem objetiva e visual, os seus poemas apresentam paisagens, costumes e personagens do contexto nordestino brasileiro.

Amar, de Carlos Drummond de Andrade:

O poema postula uma condição universal, na qual se fundem o sujeito, a ação praticada e os objetos a que essa ação se dirige.

Os Ratos, de Dyonelio Machado:

O romance Os Ratos é narrado na terceira pessoa (narrador onisciente). O narrador (o próprio autor) relata as ações de todas as personagens, concentrando suas observações no íntimo do herói, revelando ao leitor as suas angústias interiores e psicológicas.

A história de Naziazeno representa a existência humana reduzida a uma luta desesperada pela sobrevivência, trazendo um fato cotidiano na vida de um cidadão comum em um ambiente moralmente degradante gerado pela necessidade material.

Os Ratos é um romance social, drama urbano que se passa durante 24 horas.

A obra Olhai os Lírios do Campo, de Erico Veríssimo, narra a trajetória de Eugênio que na primeira fase de sua vida tem seu comportamento conduzido pelas expectativas da sociedade: prestígio social, satisfação financeira e material, e, em uma segunda fase torna-se um indivíduo consciente de si descobrindo que dinheiro não traz felicidade.

No romance São Bernardo, Graciliano Ramos busca focalizar as injustiças sociais sob a perspectiva do oprimido, tentando mostrar como a influência do meio forma o caráter do indivíduo.

Em Fogo Morto, logo na a terceira parte do livro, Capitão Vitorino assume sua condição quixotesca, por preocupar-se com as condições sociais e injustiças, mostrando-se contrário ao poder soberano dos senhores de engenho, dos militares e até mesmo dos cangaceiros, quando estes saqueiam casas.

O Tempo e o Vento, de Erico Veríssimo

O Tempo e O Vento conta a história da formação da sociedade e da cultura do estado do Rio Grande do Sul, mesclando eventos históricos com a trajetória de duas famílias: os Terra-Cambará e os Amaral.

No trecho é destacado que a obra foi "concebida à moda de uma sinfonia (...) cada personagem assoma à melodia e entoa sua versão do motivo central, deixando marcados os timbres de sua personalidade". Podemos afirmar que esta descrição está relacionada com a técnica do contraponto adotada pelo autor.

A obra é dividida em três partes: O Continente, O Retrato e O Arquipélago.

O Continente, primeira parte da obra, retrata a conquista e consolidação dos primeiros estancieiros no território gaúcho, interligando a isto o encontro e a formação da família Terra-Cambará.

Neo-realismo

regionalismo;

desigualdade social e econômica como temática;

análise psicológica dos personagens;

linguagem popular e coloquial.

A Educação pela Pedra apresenta:

- complexidade sintática – humor agressivo – O Urubu Mobilizado e Comendadores Jantando.

Grandes Sertões: Veredas

Riobaldo, narrador da história, tem consciência de que sua narrativa obedece ao fluxo da memória e não à cronologia dos fatos.

“A sobre-coisa, a outra-coisa”, que o compadre Quelemém quer, é a interpretação da própria vivência e não o simples relato dos acontecimentos.

O ouvinte exerce um papel importante, pois obriga Riobaldo a organizar a narrativa e a dar significado ao narrado.

A educação pela pedra, de João Cabral de Melo Neto:

O Rio Capibaribe, a cidade de Sevilha e o retirante nordestino são temas que encontramos em sua poesia.

A estrutura do livro, dividido em 4 partes, com 12 poemas cada, revela a noção de construção e de planejamento que o poeta imprime em sua obra.

A parte Nordeste (a) abre com a dupla imagem do mar e do canavial, tipicamente nordestina.

A parte Não-Nordeste (b) é composta por poemas que tratam do fazer poético, tema caro ao poeta.

O poema Catar feijão remete à técnica de elaboração do poema, estabelecendo uma metáfora entre a tarefa de catar feijão e a relação do poeta com as palavras.

Sobre Clarice Lispector:

Clarice Lispector é a grande representante da narrativa intimista brasileira, com sua prosa que explora a subjetividade, a partir do eu que absorve os temas do mundo.

O enredo, na narrativa, está a serviço das reflexões e dos sentimentos, motivo pelo qual é possível chamá-la de prosa poética.

A narradora tem consciência da limitação da palavra para representar a complexidade da vida e do mundo, por isso se contenta com a palavra mínima/palavra básica.

Um dos aspectos mais marcantes de A hora da estrela é o caráter metaficcional da narrativa.

Renova, define e intensifica a tendência introspectiva de determinada corrente de ficção da segunda geração moderna.

Grandes Sertões: Veredas: A narrativa constrói-se a partir de um tempo reestruturado pela memória, em que os acontecimentos se classificam segundo uma ordem de importância subjetiva.

Transmitiu ao nosso regionalismo valores universais, ao abordar dúvidas do próprio homem, numa linguagem recriada poeticamente.

Para João Cabral de Melo Neto, no texto literário:

A linguagem do texto deve refletir o tema, e a fala do autor deve denunciar o fato social para determinados leitores.

Ferreira Gullar, por sua vez, a partir do início dos anos 60, havendo rompido com as correntes vanguardistas, começou a entrar em contato com as correntes sociais que tanto assolavam a realidade brasileira da época vigente. Dessa forma, imbuído nesse propósito, passou a fazer poesia de cunho participante, cuja proposta era voltada para os aspectos da sociedade de uma forma geral.

Ferreira Gullar: a sua é uma poesia de protesto, principalmente em Poema sujo. Participou da fase concretista. Exímio jornalista, privilegia o social.

Clarice Lispector em Laços de Família: possui uma perspectiva intimista da realidade retratada por meio do cotidiano familiar.

Sagarana: Conversa de Bois, que relata a viagem de uma comitiva em que os bois falam entre si, tramam o destino dos humanos, e é acompanhada por uma irara, curiosa dos acontecimentos da jornada.

Clarice Lispector: Faz-se do uso intensivo da metáfora insólita, a entrega ao fluxo da consciência, a ruptura com o enredo factual foram constantes do seu estilo de narrar. Os analistas à caça de estruturas não deixarão tão cedo em paz seus textos complexos e abstratos. Há na gênese dos seus contos e romances tal exacerbação do momento interior que, a certa altura do seu itinerário, a própria subjetividade entra em crise. O espírito, perdido no labirinto da memória e da autoanálise, reclama um novo equilíbrio.

Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977) e Clarice Lispector (1920 – 1977) pertencem à mesma geração cronológica, mas não tiveram a mesma trajetória no campo literário, dada a diferença de classe e raça.

Quarto de despejo, publicado em 1960, é o testemunho, em primeira pessoa, de Carolina Maria de Jesus sobre sua vida de miséria em uma favela paulista. Editado por Audalio Dantas, está presente no livro a tensão entre a linguagem dominada por Carolina e aquela que, para ela, seria a linguagem literária.

Sagarana: Compõe-se de nove novelas, entre as quais se sobressai “Corpo Fechado”, história de valentões e espertos, de violência e de mágica, protagonizada por Manuel Fulô.

Sobre Clarice e sua obra: 

Renova, intensifica e aprimora tendências introspectivas de parte da ficção da geração de 1930.

Há características marcantes da escrita da autora, que com base em reflexões existenciais e da subjetividade, nos revela a intimidade dos seus personagens.

As personagens - sejam adultos ou adolescentes - debatem-se nas cadeias de violência latente que podem emanar do círculo doméstico. Homens ou mulheres, os laços que os unem são, em sua maioria, elos familiares ao mesmo tempo de afeto e de aprisionamento.

E, como se pouco a pouco se desnudasse uma estratégia, o cotidiano dos personagens de Laços de família, cuja primeira edição data de 1960, vai-se desnudando como um ambiente falsamente estável, em que vidas aparentemente sólidas se desestabilizam de súbito, justo quando o dia-a-dia parecia estar sendo marcado pela ameaça de nada acontecer.

A singularidade de Guimarães Rosa, de cuja obra é ponto culminante o romance Grande sertão: veredas está sobretudo no fato de ter conseguido, nessa obra prima, expressar aspectos regionais numa narração excepcionalmente criativa e de alcance universal.

O ovo e a galinha: O fluxo de consciência já que por meio dele se cruzam vários planos narrativos.