'Via Láctea', de Olavo Bilac


Olavo Bilac deu preferência às formas fixas do lirismo, sobretudo ao soneto. Em seu primeiro livro, Poesias, encontram-se poemas famosos, entre eles o soneto Via Láctea, que mostra a evolução da objetividade parnasiana para uma postura mais intimista e subjetiva:

Via Láctea

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,

Que, para ouvi-las, muita vez desperto

E abro as janelas, pálido de espanto…


E conversamos toda a noite, enquanto

A Via Láctea, como um pálio aberto,

Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,

Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas? Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo?”


E eu vos direi: “Amai para entendê-las!

Pois só quem ama pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender estrelas.”