Orações coordenadas (1)


O processo de coordenação diz respeito à organização em que as orações têm uma equivalência, isto é, há um paralelismo e não uma hierarquia de informações veiculadas pelas orações que compõem o período.

Evanildo Bechara classifica esse processo como parataxe:

Consiste a parataxe na propriedade mediante a qual duas ou mais unidades de um mesmo estrato funcional podem combinar-se nesse mesmo nível para constituir, no mesmo estrato, uma nova unidade suscetível desse estrato. Portanto, o que caracteriza a parataxe é a circunstância de que unidades combinadas são equivalentes do ponto de vista gramatical.

Já no processo de subordinação, há uma hierarquia na qual existe sobreposição de uma oração em relação à outra, daí o conceito de oração subordinada em relação à principal.

É o que Bechara denomina hipotaxe:

A hipotaxe (...) consiste na possibilidade de uma unidade correspondente a um estrato superior poder funcionar num estrato inferior, ou em estratos inferiores. É o caso de uma oração passar a funcionar como membro de outra oração, particularidade muito conhecida em gramática.

Ressalta-se, ainda, que os limites do período são estabelecidos por pontuações finais (., !, ?,...). Assim, podemos verificar, antes, o número de orações e de períodos no exemplo a seguir.

(1) Havia harmonia no ambiente. Os quadros estavam bem colocados, a mesa foi bem arrumada pela mulher e um perfume agradável dominava o ambiente.

Pode-se dizer que há dois períodos no parágrafo, e este é composto por quatro orações ao todo, sendo uma no primeiro período e três no segundo. Os períodos encontram-se delimitados pelos pontos finais, enquanto as orações podem ser localizadas pelos verbos havia, estavam, foi e dominava.

PARA ENTENDER

No período simples: possui apenas uma oração.

No período composto: possui duas ou mais orações.

Quanto aos processos de coordenação (parataxe) ou subordinação (hipotaxe), em um texto podemos encontrá-los mistos na organização dos parágrafos. Por isso, o que interessa é compreender como esses mecanismos funcionam, além de saber identificá-los para a descrição linguística do texto.

Vejamos um exemplo:

Quando eu entrei no quarto /, abri a gaveta / e descobri / que o meu anel sumiu.

Nesse período, que já se encontra segmentado pelas barras, vamos verificar a relação sintática entre as orações. Para efeito de descrição, chamemos de (a) a primeira, de (b) a segunda, (c) a terceira e (d) a quarta oração.

Entre as orações (a) e (b), há uma relação de subordinação, em que a oração (b) é principal em relação à (a), e esta equivale a uma circunstância de tempo, então se classifica como subordinada adverbial.

A oração (c) é coordenada em relação à (b), introduzida pela conjunção aditiva e, daí sua classificação em oração coordenada sindética (aditiva).

Já a oração (d) corresponde a um sintagma que complementa a oração anterior, (c), e equivale ao objeto direto da oração anterior, portanto é uma oração subordinada substantiva.

Isto posto, passaremos a tratar separadamente de cada tipo de processo de organização sintática – coordenação e subordinação – para efeitos didáticos de compreensão, lembrando que em um texto esses mecanismos diversificam-se, havendo períodos, parágrafos em que ambos se encontram.

PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO

No período composto por coordenação, há uma independência entre as orações pelo fato de elas apresentarem-se completas, isto é, terem todos os termos sintáticos previstos na relação predicativa (ao contrário das orações complexas ou período composto por subordinação).

Todavia, embora não aparente, a coordenação é um processo mais complexo, tendo em vista que muitas vezes envolve fatores semânticos e cognitivos. Analise, por exemplo, dois enunciados semelhantes:

(2) Estudei bastante e fui aprovada.

(3) Estudei bastante e fui reprovada.

Estudei bastante, e fui reprovada. A vírgula antes da conjunção -e faz com que o essa mesma conjunção passe de aditiva para adversativa.

Temos dois exemplos que apresentam a mesma estrutura sintática. São duas orações, havendo na segunda um conector e como ligação entre cada uma delas. No entanto, observando-as semanticamente, no exemplo (2), a segunda oração tem um valor positivo em relação à primeira, ao passo que no exemplo (3) a segunda tem valor negativo em relação à primeira.

Para Bechara, entretanto, essa conclusão não está no uso do conector e, que, do ponto de vista sintático, tem por função adicionar uma informação à outra. É esse o papel que exerce em ambos os exemplos, portanto podemos entender que essa conjunção (conector) é aditiva.

IMPORTANTE

A gramática tradicional denomina sindéticas as orações que têm conjunção, pois esta recebe também o nome de síndeton, daí a denominação. E são essas conjunções coordenativas que designam a classificação para as orações.

De acordo com Bechara, são três as relações estabelecidas pelas conjunções coordenativas (ou conectores):

1. Aditiva: adiciona orações.

Entrou e sentou-se no sofá.

Em orações negativas, a conjunção e pode ser substituída por nem.

João não comeu nem bebeu em casa.

2. Adversativa: contrapõe o conteúdo de uma oração em relação à outra.

Procurei o meu brinco, mas não o encontrei.

As conjunções adversativas mais comuns são mas, porém, senão (após conteúdo negativo).

3. Alternativa: contrapõe o conteúdo de uma oração ao de outra, com a ideia de exclusão de um em relação ao outro, ou seja, de escolha, de alternativa.

Entra ou sai da porta.

A gramática tradicional relaciona, ainda, orações coordenadas que apresentam conjunções conclusivas, explicativas e causais.

Para Bechara, entretanto, esses valores estabelecidos por essas conjunções têm semelhança com as orações subordinadas e encontram-se no nível do sentido do texto, ultrapassando os limites de fronteira da oração.

Assim como há orações coordenadas introduzidas por conjunções, há períodos em que elas se justapõem, ou seja, em que elas encontram-se ligadas sem marcas linguísticas, apenas distintas pela pontuação. É o que a gramática tradicional denomina oração coordenada assindética (sem conjunção). Esse procedimento de enlace das orações pode ser chamado de justaposição.

Exemplificando:

Dirigiu-se à porta, abriu-a, saiu. Ninguém na rua. Voltou para casa.