Dom Casmurro
Dom Casmurro é uma das maiores obras do escritor realista brasileiro Machado de Assis (1839-1908). Com 148 capítulos titulados, o romance foi publicado em 1899.
Bento Santiago (Bentinho): protagonista e narrador da história.
Capitu (Capitolina): vizinha e grande amor de Bento.
Dona Glória: mãe de Bento.
Pedro de Albuquerque Santiago: pai falecido de Bento.
José Dias: autointitulado médico e agregado à família na casa de Dona Glória.
Cosme: tio de Bento, advogado e irmão de Dona Glória.
Justina: prima de Dona Glória.
Senhor Pádua: pai de Capitu.
Dona Fortunata: mãe de Capitu.
Ezequiel de Souza Escobar: melhor amigo de Bento no seminário.
Sancha: amiga de Capitu e mulher de Escobar.
Capitolina: filha de Escobar e Sancha.
Pequeno Ezequiel: filho de Bento e Capitu.
Narrado em primeira pessoa, o protagonista Bento revela sua história de amor e o drama de sua vida, depois dos 60 anos, ao se apaixonar por sua vizinha: Capitu.
O romance tem esse nome, pois o narrador recebe o apelido de “Dom Casmurro”, criado por um jovem poeta. Nota-se, em muitas passagens, a ironia do autor e a crítica à sociedade brasileira da época. Temas como o amor, o ciúme, o caráter e a traição são destacados na obra de Machado.
O epíteto: CASMURRO
Diz-se de ou indivíduo fechado em si mesmo; ensimesmado, sorumbático; introspectivo.
Se Brás Cubas, de Memórias Póstumas de Brás Cubas, era blasé, o nosso Bentinho era casmurro.
A verdade é que, ao ler a obra o leitor fica na dúvida, pois em nenhum momento Capitu declara seu envolvimento com o amigo de Bentinho, Escobar.
Como Dom Casmurro é o protagonista e narrador da obra, não sabemos a que ponto a história foi manipula aos olhos dele. Ou seja, a dúvida que paira é saber se a história relatada por ele trata-se de um verdadeiro adultério ou de um ciúme doentio, vaidade e egocentrismo por parte de Bento.
Machado de Assis conseguiu com grande maestria escrever um drama, unindo a uma história de amor e decepções. Além disso, ele pretendeu abordar a questão de diferenças de classes sociais, uma vez que a família de Bento era abastada e a de Capitu era pobre.
Recortes da obra:
“Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da Lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.
— Continue, disse eu acordando.
— Já acabei, murmurou ele.
— São muito bonitos.”
Outro recorte:
“De repente, cessando a reflexão, fitou em mim os olhos de ressaca, e perguntou-me se tinha medo.
— Medo?
— Sim, pergunto se você tem medo.
— Medo de quê?
— Medo de apanhar, de ser preso, de brigar, de andar, de trabalhar...
Não entendi. Se ela tem dito simplesmente: "Vamos embora!" pode ser que eu obedecesse ou não; em todo caso, entenderia. Mas aquela pergunta assim, vaga e solta, não pude atinar o que era.
— Mas... não entendo. De apanhar?
— Sim.
— Apanhar de quem? Quem é que me dá pancada?”
Outro recorte:
“Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas..."
Outro recorte:
"As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela; Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos, como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã."