Desinências nominais e verbais e a vogal temática
Desinências são morfemas que permitem a flexão da palavra a qual se juntam. Existem dois tipos de desinências: as desinências nominais e as desinências verbais.
Desinências nominais
Desinências nominais são morfemas que, quando juntos a algumas palavras, especialmente substantivos e adjetivos, indicam sua flexão em gênero (masculino e feminino) e em número (singular e plural).
Exemplos:
-o: desinência nominal indicativa do gênero masculino.
-a: desinência nominal indicativa do gênero feminino.
-s: desinência nominal indicativa do número plural.
Pelas desinências, conseguimos identificar o gênero e o número das seguintes palavras:
menino: masculino, singular.
menina: feminino, singular.
meninos: masculino, plural.
meninas: feminino, plural.
IMPORTANTE!
Existem palavras invariáveis que não se flexionam, não admitindo desinências de gênero e número.
Exemplos:
Palavras que não aceitam desinência nominal de gênero: cama, papel, janela, hotel;
Palavras que não aceitam desinência nominal de número: pires, lápis, ônibus, vírus;
Desinências verbais
Desinências verbais são morfemas que, quando juntos aos verbos, indicam sua flexão em número (singular e plural), em pessoa (1.ª, 2.ª ou 3.ª pessoa gramatical), em modo (indicativo, subjuntivo e imperativo) e tempo (passado, presente e futuro).
São as terminações que os verbos assumem quando conjugados. Dividem-se em desinência número pessoal, desinência modo temporal e desinência verbo nominal.
Desinência número pessoal: indica o número e a pessoa a qual se refere a ação verbal.
Exemplos:
-o: desinência número pessoal indicativa da 1.ª pessoa do singular: eu canto, eu amo, eu vendo, eu prendo, eu parto, eu abro;
-s: desinência número pessoal indicativa da 2.ª pessoa do singular: tu cantas, tu amas, tu vendes, tu prendes, tu partes, tu abres;
-mos: desinência número pessoal indicativa da 1.ª pessoa do plural: nós cantamos, nós amamos, nós vendemos, nós prendemos, nós partimos, nós abrimos;
-m: desinência número pessoal indicativa da 3.ª pessoa do plural: eles cantam, eles amam, eles vendem, eles prendem, eles partem, eles abrem;
Desinência modo temporal
Indica em que modo e em que tempo ocorre a ação verbal.
Exemplos:
-va: desinência modo temporal indicativa do pretérito imperfeito do indicativo (1.ª conjugação): eu cantava, tu cantavas, ele cantava;
-ia: desinência modo temporal indicativa do pretérito imperfeito do indicativo (2.ª e 3.ª conjugações): eu vendia, tu vendias, ele vendia;
-ra: desinência modo temporal indicativa do pretérito mais-que-perfeito do indicativo: eu brincara, tu brincaras, ele brincara;
-ria: desinência modo temporal indicativa do futuro do pretérito do indicativo: eu partiria, tu partirias, ele partiria;
-sse: desinência modo temporal indicativa do pretérito imperfeito do subjuntivo: se eu abrisse, se tu abrisses, se ele abrisse;
Desinência verbo nominal: indica as formas nominais dos verbos, ou seja, o infinitivo, o gerúndio e o particípio.
Exemplos:
-r: desinência verbo nominal indicativa do infinitivo: contar.
-ndo: desinência verbo nominal indicativa do gerúndio: contando.
-do: desinência verbo nominal indicativa do particípio: contado.
VOGAL TEMÁTICA
As vogais temáticas ocorrem entre um radical e uma desinência.
Ocorrendo em verbos, são chamadas de vogais temáticas verbais. Ocorrendo em nomes, são chamadas de vogais temáticas nominais.
Nos verbos, as vogais temáticas indicam a conjugação verbal:
Vogal temática -a indica os verbos da 1.ª conjugação: falar.
Vogal temática -e indica os verbos da 2.ª conjugação: entender.
Vogal temática -i indica os verbos da 3.ª conjugação: dividir.
Há exceções que são chamadas de formas atemáticas. Nos verbos essas formas ocorrem no presente do subjuntivo, por exemplo:
1ª conjugação: cante – cant/e
2ª conjugação: venda – vend/a
3ª conjugação: parta – part/a
Nos nomes, as principais vogais temáticas são -a e -o, como em em livr-o e past-a. Os nomes terminados em consoante, como par, possuem a vogal temática -e, que é recuperada no plural (mar-e-s). Apenas as vogais finais átonas são vogais temáticas nominais. Os nomes terminados em vogal tônica, como café, não possuem vogal temática.
IMPORTANTE
O –o final será vogal temática quando substituído por –a não há oposição masculino ou feminino.
Exemplo: na palavra livro, não há oposição masculino/feminino (livr–?).
O –o final será desinência de gênero quando a sua substituição por –a vai enquadrar o vocábulo na categoria de gênero feminino. Há então oposição masculino/feminino.
Exemplo: menino (masculino)/menina (feminino).
Os nomes terminados em consoante (lar, azul) e em vogal tônica (café, caju) são atemáticos, isto é, não possuem vogal temática.
As desinências verbais são morfemas que se unem aos verbos para indicar as flexões de número (singular e plural), pessoa (1.ª, 2.ª ou 3.ª pessoa), modo (indicativo, subjuntivo e imperativo) e tempo (passado, presente e futuro).
Vejamos as divisões:
Desinência número pessoal: relaciona-se ao número e a pessoa do verbo.
1ª pessoa do singular (desinência -o): eu canto, eu danço, eu corro;
2ª pessoa do singular (desinência -s): tu cantas, tu danças, tu corres;
1ª pessoa do plural (desinência -mos): nós cantamos, nós dançamos, nós corremos;
3ª pessoa do plural (desinência -m): eles cantam, eles dançam, eles correm.
Desinência modo temporal: indica o modo e o tempo em que a ação verbal acontece.
Pretérito imperfeito (1.ª conjugação) / (desinência -va): eu chorava, tu choravas, ele chorava;
Pretérito imperfeito (2.ª e 3.ª conjugações) / (desinência -ia): eu dormia, tu dormias, ele dormia;
Pretérito mais-que-perfeito do indicativo (desinência -ra): eu bebera, tu beberas, ele bebera;
Futuro do pretérito do indicativo (desinência -ria): eu fugiria, tu fugirias, ele fugiria;
Pretérito imperfeito do subjuntivo (desinência -sse): se eu quisesse, se tu quisesses, se ele quisesse.
Desinência verbo nominal: indica as formas nominais, o infinitivo, o gerúndio ou o particípio, dos verbos.
-r: desinência indicativa de infinitivo. Exemplo: chorar, comer, reza, estudar;
-ndo: é desinência indicativa de gerúndio. Exemplo: chorando, comendo, rezando, estudando;
-do: desinência indicativa de particípio. Exemplo: chorado, comido, rezado, estudado.
Atenção: desinência não é o mesmo que vogal temática. A função da vogal temática é unir o radical às desinências, constituindo o tema (radical + vogal temática), como visto no início da nossa explicação. Sendo assim, a vogal temática não indica flexões, como no caso das desinências.
Amigo possui vogal temática?
Gramáticos importantes (Mattoso Câmara Jr., Manuel P. Rilbeiro, J. C. Azevedo, C. P. Luft, L. A. Sacconi, Rocha Lima etc.) entendem que não existem desinência de gênero masculino, o -o de amigo seria, para eles, uma vogal temática. Eles argumentam que muitas palavras não terminam em -o e, mesmo assim, marcam o gênero masculino da palavra: mestre (mestra), elefante (elefanta), presidente (presidenta), cantor (cantora), juiz (juíza) etc.
Essa análise faz sentido, pois, se não há terminação específica para indicar o gênero, por que encarar o -o como desinência de gênero? Ou, então, será preciso admitir que o -e também é desinência de gênero masculino. Trocando em miúdos, só existe a desinência de gênero feminino (-a). Assim como a palavra no singular não tem desinência para marcar o singular, o mesmo se dá com a palavra no masculino, isto é, sabe-se que uma palavra está no masculino porque há uma correspondência no feminino.
Sabe-se que -o pode ser
1) desinência de gênero masculino ou 2) vogal temática.
Dependerá da visão do gramático. Além disso, nunca é demais dizer que existem palavras que fogem à "regra" da desinência: atriz, condessa, poetisa, czarina, chinesa (as terminações (sufixos, para alguns linguistas) -riz, -essa, -isa, -ina, -esa indicam o gênero feminino); avó (o timbre aberto indica o gênero feminino); cabra, vaca, nora, mulher (outro radical para indicar o gênero feminino; heteronímia). Como se viu, não existem só as desinências de gênero como forma de marcar o gênero da palavra e, consequentemente, o sexo, no caso de ser humano ou animal, é claro.