Barroco no Brasil (ou Seiscentismo)


O Barroco no Brasil ocorreu entre 1601 e 1768, e sofreu influência das medidas da Contrarreforma Católica, ocorrida na Europa. Suas principais características são o fusionismo, o culto ao contraste, o cultismo e o conceptismo.

O fusionismo é uma espécie de alquimia dos contrários, visa transformar toda diferença em oposição, toda oposição em simetria e toda simetria em identidade. O diferente torna-se idêntico, o outro torna-se o mesmo, como a imagem refletida no espelho, que contém em si o idêntico e o diferente, a igualdade invertida.

Cultismo ou gongorismo é o jogo de palavras (sinônimos, antônimos, homônimos, trocadilhos, figuras de linguagem, hipérbatos).

Conceptismo ou quevedismo é o jogo de ideias (comparações e argumentação engenhosa).

O movimento tem início no final do século XVII. No país, essa tendência artística teve grande destaque na arquitetura, escultura, pintura e literatura.

Na literatura, o marco inicial do barroco é a publicação da obra “Prosopopeia” (1601) de Bento Teixeira; na escultura e arquitetura, Aleijadinho foi, sem dúvida, um dos maiores artistas barrocos brasileiros.

Durante o período colonial o Barroco floresceu no Brasil. A capital Salvador foi transferida para o Rio de Janeiro e, com isso, o número de habitantes aumentou consideravelmente no país.

Aliado a exploração de ouro, que passou a ser a principal atividade econômica desenvolvida, o aumento da população propiciou um forte desenvolvimento econômico.

Com a queda das exportações de açúcar nordestino no mercado consumidor mundial, tem início o chamado "ciclo do ouro". Nesse período, Minas Gerais passou a ser o grande foco, tendo em conta as jazidas encontradas no local.

Foi ali que a arte barroca mineira começou a despontar com Aleijadinho na escultura e arquitetura, e o Mestre Ataíde, na pintura.

No Brasil Colônia, no século XVII, a estética barroca passou a influenciar artistas no território brasileiro. Nesse período, Salvador e Recife eram os principais centros urbanos, pois a economia do país era baseada na exploração de cana-de-açúcar, concentrada no Nordeste. Salvador era a capital do Brasil, centro do poder, e lá moraram os dois principais escritores do barroco brasileiro.

A escravidão dos nativos indígenas e dos negros africanos, iniciada no século anterior, estava em curso no país. O trabalho na produção de cana-de-açúcar era, portanto, exercido por escravos. Não havia ainda uma ideia de Brasil como nação, a identidade do país estava em construção. A principal influência cultural era portuguesa. Dessa maneira, a religiosidade cristã ditava o comportamento das pessoas da época, comandadas pela Igreja Católica.

Na Europa, no século anterior, a Reforma Protestante provocou a reação da Igreja Católica naquilo que ficou conhecido como Contrarreforma, criando medidas de combate ao protestantismo, entre elas a criação da Companhia de Jesus. Os jesuítas, responsáveis pela catequização dos índios, chegaram ao Brasil no século XVI e permaneceram no país, onde exerceram grande influência política, até o século XVIII, quando foram expulsos. O autor barroco Padre António Vieira (1608-1697) foi um dos mais importantes tanto no Barroco brasileiro quando no Barroco português.

Linguagem dramática;

Racionalismo;

Exagero e rebuscamento;

Uso de figuras de linguagem;

União do religioso e do profano;

Arte dualista;

Jogo de contrastes;

Valorização dos detalhes;

Cultismo (jogo de palavras);

Conceptismo (jogo de ideias);

Antítese e paradoxo: figuras de oposição;

Pessimismo: postura negativa diante da materialidade;

Feísmo: obsessão por imagens desagradáveis;

Rebuscamento: ornamentação excessiva da linguagem;

Hipérbole: exagero;

Sinestesia: apelo sensorial.

Teixeira (1561-1618)

Nascido no Porto, Portugal, Bento Teixeira é o autor da obra “Prosopopeia” (1601), que inaugura o movimento do barroco literário no Brasil. Esse poema épico com 94 estrofes exalta a obra de Jorge de Albuquerque Coelho, terceiro donatário da capitania de Pernambuco.

Gregório de Matos (1633-1696)

Nascido em Salvador, Gregório de Matos foi um dos maiores representantes da literatura barroca no Brasil. Sua obra reúne mais de 700 textos de poemas líricos, satíricos, eróticos e religiosos. Parte de suas poesias ironizava diversos aspectos da sociedade e, por isso, ficou conhecido como “Boca do Inferno”.

Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711)

Nascido em Salvador, Manuel Botelho de Oliveira foi o primeiro brasileiro a publicar versos no estilo barroco. De sua obra poética, destaca-se: “Música do Parnaso” (1705).

Frei Vicente de Salvador (1564-1636)

Nascido próximo à capital baiana, O Frei Vicente de Salvador foi historiógrafo e o primeiro prosador do país. Teólogo de formação, estudou na Universidade de Coimbra e de volta ao Brasil exerceu os cargos de cônego, vigário e franciscano. De sua obra, destacam-se: “História do Brasil” e “História da Custódia do Brasil”.

Frei Manuel da Santa Maria de Itaparica (1704-1768)

Nascido na Bahia, o Frei Manuel da Santa Maria de Itaparica foi um frade franciscano. De sua poesia, destacam-se as obras: “Eustáquios” e “Descrição da Ilha de Itaparica”.

Em Minas Gerais, além de Aleijadinho, o grande nome da arte barroca mineira, destacam-se as pinturas do Mestre Ataíde.

É possível encontrar as obras de Aleijadinho (1730-1814) em diversas cidades mineiras, tais como: Ouro Preto, Congonhas, São João del-Rei entre muitas outras. Ele ficou conhecido por suas esculturas em pedra-sabão, entalhes em madeira, altares e igrejas.

Principais temáticas

- fragilidade humana;

- fugacidade do tempo;

- crítica à vaidade;

- contradições do amor."

CURIOSIDADES

“Aleijadinho era um deficiente físico grave que fez centenas de estátuas sozinho”

As famosas esculturas são provavelmente fruto de vários e talentosos artistas, que dividiam o trabalho entre si e tinham ajudantes. E a imagem dele como um homem desfigurado pode ser uma criação literária. Para alguns historiadores, o mais provável é que a fonte de inspiração da biografia de Bretas eram personagens literários populares no século XIX, como Quasímodo, o corcunda de Notre-Dame do livro do escritor francês Victor Hugo, Notre-Dame de Paris. Os dois são impressionantemente parecidos. Como Aleijadinho, Quasímodo era um belo-horrível: apesar de ter uma aparência desfigurada, era capaz de boas ações. 

Levando em consideração que, em sua produção literária, Gregório de Matos dedicou-se também à sátira irreverente, pode-se afirmar que os versos se marcam: pela indignação, advinda de um ideal moralizante expresso pelo eu lírico. 

Gregório de Matos escreveu mais de 700 poemas religiosos, amorosos e satíricos. Apenas para citar alguns dos mais representativos:

"A Jesus Cristo Nosso Senhor" - poema sacro.

"À mesma d. Ângela" - poema amoroso.

"Triste Bahia" - poema satírico.

Lembrando que Gregório de Matos é conhecido como "Boca de Inferno", justamente por causa dos seus sonetos satíricos.

A antítese, o recurso mais utilizado no Barroco, é uma figura de pensamento que recorre à aproximação das palavras com sentidos opostos. É o caso de tristeza e alegria.

Em:

Goza, goza da flor da mocidade,

Que o tempo trota a toda ligeireza,

E imprime em toda flor sua pisada.


Oh, não aguardes, que a madura idade

Te converta essa flor, essa beleza,

Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.

(Gregório de Matos)

Há um jogo metafórico do Barroco, a respeito da fugacidade da vida, exaltando gozo do momento. Os autores do Barroco recorrem a muitas figuras de linguagem, sendo a metáfora uma delas. A metáfora apresenta uma comparação implícita, neste caso, a pouca duração da mocidade com o gozo do momento.

O cultismo e o conceptismo são caraterísticas do Barroco. O cultismo é um estilo que valoriza a forma textual, enquanto o conceptismo, valoriza o conteúdo.

O Padre Antônio Vieira tinha como seu estilo literário o conceptismo, cujo objetivo é convencer as pessoas através da argumentação.

A presunção de superioridade, crítica da vaidade, preconceito de cor são características tanto Bocage como Gregório de Matos, que eram conhecidos por serem presunçosos e preconceituosos.

O cultismo na Espanha, Portugal e Brasil é também conhecido como gongorismo e seu mais ardente defensor, entre nós, foi o Pe. Antônio Vieira, que, no Sermão da Sexagésima, propõe a primazia da palavra sobre a ideia.

Gregório de Matos Guerra se utilizava do cultismo (gongorismo).