Regência do verbo 'preferir'
Como verbo que aceita dois complementos, a estrutura da frase com o verbo preferir é: verbo + objeto direto + preposição a + objeto indireto:
Prefiro isso àquilo.
No enunciado:
O roteiro do filme oferece uma versão de como conseguimos um dia preferir a estrada à casa, a paixão e o sonho à regra, a aventura à repetição.
Daí perguntou se, quanto à construção à casa, estaria a crase corretamente empregada, afirmando dizer a regra que casa, sem que esteja especificada, no sentido de lar, domicílio, não é craseada.
O verbo preferir rege-se com a preposição a. Daí a construção preferir a estrada à casa (ou preferir um copo de vinho a um copo de cerveja). Em a estrada, empregamos apenas o artigo definido a; mas, em à casa, temos a crase de um artigo definido e uma preposição: a + a = à.
No caso apresentado, a palavra casa, além de ter a preposição a anteposta em virtude da regência do verbo preferir, tem também o artigo a por uma questão de paralelismo.
Tendo em vista que, na construção preferir a estrada à casa, usa-se o artigo em estrada, dever-se-á usá-lo também em casa, mesmo não estando ela especificada e significando ela lar, residência, domicílio. É o paralelismo, portanto, e não o sentido da palavra casa, que indica, nessa expressão, a necessidade do artigo; e a regência do verbo preferir.
Exemplifiquemos: em prefiro bom vinho a boa cerveja, como o primeiro elemento não é antecedido de artigo, o segundo também não é; em prefiro um bom vinho a uma boa cerveja, temos o artigo indefinido um antes do primeiro substantivo, pelo que também temos o artigo um antes do segundo.
Nas frases com o verbo preferir, quando o primeiro substantivo se rege com artigo, é habitual e de bom estilo reger também com artigo o segundo.