Fragmento 40


Se eu, como protagonista da minha própria vida, procuro sempre oferecer o meu melhor a Pedro, ofertado através do amor, da minha amizade, do meu tempo dedicado a ele, eu estou sendo hipócrita e egoísta. Pois bem, para entender temos que inverter a polaridade da perspectiva. O meu altruísmo nada mais é do que egoísmo (?). Se eu me coloco numa posição em que procuro sempre me dedicar a Pedro, inclusive, oferecendo meus cuidados a ele, é, sobretudo, porque eu mantenho algum interesse como, por exemplo, ser amado ou reconhecido como melhor amigo. Em uma hipótese mais ampla, em satisfazer alguma fantasia do meu próprio inconsciente.

O amor, ou melhor, o meu amor por Pedro, antes de qualquer coisa, é o desejo de posse manifestado. É um impulso egoísta. É o querer me apropriar do outro, de dominar o próximo. E eu me revisto da hipocrisia como manto protetor. Pois quando eu expresso o meu intenso amor por Pedro, eu na verdade quero tê-lo aos meus pés, sob o meu próprio domínio. Não há ação altruísta, não há ação desinteressada.

Alecto Grego