Fragmento 33
Quando eu finalmente decidi interpelar as posições no tabuleiro das emoções, dei-me conta de que teria que assumir o papel de filósofo da suspeita. Pedro me fez (re)pensar minhas convicções, inclusive, os sentimentos que eu mantinha por ele, e, de alguma forma, os que eu também acreditava que ele nutria por mim, ainda que no meu imaginário fabuloso. A minha relação primária com Pedro atingia certo platonismo. Eu o venerava. E por venerá-lo, tratava-o como figura reinante de um pedestal particular. Atendia-lhe de modo a satisfazer todas as suas vontades. Por infinitas vezes, ele foi o meu amo e refletia tudo aquilo que eu desejava em alguém de carne e osso. A personagem perpetuada como amigo íntimo e confidente, meu protegido, que sempre legou o suor e os seus pés a mim, além das pintas nas costas, que, com traços da minha imaginação, formavam uma constelação de desejos, e sempre habitou o plano das minhas ideias, era o desenho do meu ideal.