A Filosofia e Sociologia na educação
Ao estudar a educação nos seus aspectos sociais, políticos, econômicos, psicológicos, para descrever e explicar o fenômeno educativo, a Pedagogia recorre à contribuição de outras ciências como a Filosofia, a História, a Sociologia, a Psicologia, a Economia. Esses estudos acabam por convergir na Didática, uma vez que esta reúne em seu campo de conhecimentos objetivos e modos de ação pedagógica na escola. Além disso, sendo a educação uma prática social que acontece numa grande variedade de instituições e atividades humanas (na família, na escola, no trabalho, nas igrejas, nas organizações políticas e sindicais, nos meios de comunicação de massa etc.), podemos falar de uma pedagogia familiar, de uma pedagogia política etc. e, também, de uma pedagogia escolar. Nesse caso, constituem-se disciplinas propriamente pedagógicas, tais como a Teoria da Educação, a Teoria da Escola, a Organização Escolar, destacando-se a Didática como Teoria do Ensino (LIBÂNEO, 1990, p. 16).
A Sociologia da Educação estuda a educação como processo social e ajuda os professores a reconhecerem as relações entre o trabalho docente e a sociedade. Ensina a ver a realidade social no seu movimento, a partir da dependência mútua entre seus elementos constitutivos, para determinar os nexos constitutivos da realidade educacional. A par disso, estuda a escola como ‘fenômeno sociológico’, isto é, uma organização social que tem a estrutura interna de funcionamento interligada ao mesmo tempo com outras organizações sociais (conselho de pais, associações de bairros, sindicatos, partidos políticos etc.). A própria sala de aula é um ambiente social que forma, junto com a escola como um todo, o ambiente global da atividade docente organizado para cumprir os objetivos de ensino.
Segundo Libâneo (1990), a educação é socialmente determinada, pois os fins e as exigências sociais, políticas e ideológicas guiam todo o processo de funcionamento da sociedade, estabelecendo valores, normas e particularidades da estrutura social a qual a educação está subordinada. Isso, pois, desde o início da existência da espécie humana, os homens vivem em grupos e a vida de um está sempre vinculada e na dependência da vida de outros. Por exemplo, a organização atual, no Brasil, funciona com a existência de um Estado que governa, e dele depende todo o futuro da nação. As ações do governo provocam um efeito cascata, influenciando no preço dos alimentos, no aumento ou na diminuição dos impostos, na oferta de empregos, na qualidade de vida das pessoas, na criminalidade etc. Essa forma de organização, a divisão em classes sociais e o capitalismo, que hoje rege praticamente o mundo todo, vão configurando as ações práticas e concretas dos homens.
Libâneo (1990) explica também que, desde quando passaram a viver socialmente, os homens começaram a travar relações de reciprocidade diante da necessidade de organizar seu trabalho em conjunto e garantir a sobrevivência. Essas relações se transformaram, criando novas necessidades, novas maneiras de organizar o trabalho, conforme sexo, idade, ocupações, de maneira que existisse uma distribuição das atividades entre todos os envolvidos nesse processo.
Libâneo (1990, p. 19) destaca as ideias, os valores e as práticas apresentados pela minoria dominante como se fossem representativos dos interesses de todas as classes sociais, o que se conhece pelo nome
de ideologia. Ele cita alguns discursos como exemplo da verdade que a minoria dominante queria incutir nos trabalhadores.
“O governo sempre faz o possível; as pessoas é que não colaboram.”
“Os professores não têm que se preocupar com política, o que devem fazer é cumprir sua obrigação
na escola.”
“Nossa sociedade é democrática porque dá oportunidades iguais a todos. Se a pessoa não tem um bom emprego ou não consegue estudar é porque tem limitações individuais.”
“As crianças repetem de ano porque não se esforçam; tudo na vida depende do esforço pessoal.”
“Bom aluno é aquele que sabe obedecer.”
O campo específico de atuação profissional e política do professor é a escola, à qual cabem tarefas de assegurar aos alunos um sólido domínio de conhecimentos e habilidades, o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais, de pensamento independente, crítico e criativo. Tais tarefas representam uma significativa contribuição para a transformação de cidadãos ativos, criativos e críticos, capazes de participar nas lutas pela transformação social. Podemos dizer que, quanto mais a minoria dominante refina os meios de difusão da ideologia burguesa, tanto mais a educação escolar adquire importância, principalmente para as classes trabalhadoras.
Libâneo (1990) diz que, em relação ao tipo de escola que deveríamos ter para o exercício da docência, para uma sociedade melhor, a escolarização básica constitui um instrumento indispensável para a construção de uma sociedade mais democrática. Precisamos dar a todos uma formação que permita o domínio da parcela de conhecimentos culturalmente acumulados e um entendimento crítico da realidade.
Para a garantia de uma escolarização capaz de lutar pela democratização da sociedade, segundo Libâneo (1990), é necessária a atuação em duas frentes: política e pedagógica. A política tem caráter pedagógico, pois visa formar para a sociedade e para o envolvimento dos educadores nos movimentos sociais e sindicais, nas lutas organizadas em defesa da escola unitária, democrática e gratuita; a pedagógica tem caráter político, pois parte de representar interesses estratégicos de toda uma população, e não apenas da elite.