O uso da vírgula na conjunção ‘pois’


COM INTER TÍTULOS DE AURA FIGUEIRA

A conjunção pois pode ser causal, conclusiva ou explicativa

Quando ela tiver valor conclusivo sempre aparecerá entre vírgulas, já que nunca encabeça a oração da qual participa. Quando houver sentido explicativo, a vírgula aparece antes da conjunção.

Não veremos os animais e as árvores do parque, pois foram sacrificados. 

(conjunção causal, com sentido explicativo)

Os animais e as árvores do parque foram, pois, sacrificados. 

(conjunção conclusiva)

IMPORTANTE

a) Em começo de frase, as conjunções não devem ser seguidas de vírgula; no entanto, para alguns gramáticos o uso da vírgula no início de frase em conjunções adversativas é facultativo;

b) Quando estão deslocadas na frase, devem aparecer entre vírgulas, pois há intercalação.

MAIS

A colocação do pois após o primeiro verbo impede que aquele seja classificado como conclusivo. Há regras específicas quanto à sua utilização para o distinguir do pois explicativo ou do pois causal.

Assim, segundo Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, Pois, quando conjunção conclusiva, vem sempre posposto a um termo da oração a que pertence:

Para ali estavam, pois, horas sem conto, esperando, inutilmente, ludibriarem-se a si próprios. (Fernando Namora, Cidade Solitária).

Por outro lado, quando no meio da frase, este vocábulo deve ser sempre colocado entre vírgulas; se for para o final da frase, a vírgula deve precedê-lo.

a) [...] desejava, pois, ser aprovada.

b) [...] pois desejava ser aprovada.

A frase a) contém uma oração coordenada conclusiva. 

Já a frase b) contém uma oração coordenada explicativa, introduzida pelo conector explicativo pois.

Explicativa ou causal?

A distinção entre o que explicativo e o causal levanta sempre algumas dúvidas, pois assenta numa natureza semântica e de interpretação da frase. 

EXPLICATIVAS

Com a conjunção explicativa, estabelece-se uma relação de explicação, isto é, a segunda oração explica o acontecimento relatado na primeira:

Ex.: Não faças isso, que fico aborrecida.

As conjunções coordenativas explicativas ligam duas orações, a segunda das quais justifica a ideia da primeira. São várias: que, pois, porque, porquanto. Normalmente este porque vem antecedido de verbo no imperativo:

Compra o casaco, porque está frio.

Não comas isso, que (= porque) não presta.

CAUSAIS

Nas causais, a conjunção estabelece uma relação de causa:

Ex.: Não fui à festa porque estava cansada. 

Enquanto a causal, em geral, sugere "estar na origem de", a explicativa propõe "deduz-se de".

Como orações coordenadas (ou independentes, como alguns gramáticos referem, por exemplo, Bechara, na sua Moderna Gramática Portuguesa), poderiam formar dois períodos, sem prejuízo do sentido: Senta-te. Vais sentir-te melhor.

Pode  ajudar a decidir se uma dada oração é subordinada causal ou coordenada explicativa ao fazermos o teste de agramaticalidade: na coordenação, a oração que é introduzida pela conjunção não pode dar início à frase: 

a) Que vais sentir-te melhor, senta-te.

b) Pois vais sentir-te melhor, senta-te.

Contrariamente ao que acontece com as subordinadas causais, que podem iniciar a frase:

a) Porque estava cansada, não fui à festa.