Fragmento 16
Fazia-se do tipo manso, grande e despretensioso. Taludo!, como costumava ser chamado pelos mais próximos. Ultrapassava quase todos os limites da inteligência e da simplicidade. Desajeitado na maior parte do tempo e sem traquejo social, ele projetava a figura de um jovem que galgava no tempo para alcançar a feição de homem, desprovido de qualquer malícia e perdido nos próprios sentimentos. Mas aguçou-me o peito e fez disparar meu coração. Era um assalto as minhas emoções, um saque aos meus desejos. Eu havia sido tomado naquele instante por uma sentimentalidade desesperadora. Queria a ele o bem do mundo. Tomava de mim a vida para entregar-lhe ainda quente, pulsante. Eu era feliz e ponto. Não havia necessidade de nada, de ninguém. O seu peito se tornara o meu refúgio. E não havia uma única voz capaz de desmentir isso. No entanto, com a mesma ventura que o amor veio, se foi. Arrastado, vilipendiado; sem beleza ou sonoridade. As palavras atingiam secas o meu âmago. Meu amor foi mutilado até sangrar. Eu precisei morrer para só depois voltar a ter vida. Nasci, amei de novo, e planto paz.
Alecto Grego