Fragmento 15
Ainda era garoto, mas já vivia como homem. Na maior parte do tempo, agia como homem, pensava como homem e acreditava ser homem, apesar de todas as impossibilidades de uma meninice óbvia. Manifestava uma meiguice vibrante em uma voz que ora ecoava suave aos tímpanos, ora era áspera como o cascalho; pedregosa quando muito irado. A pouca idade que trazia consigo revelava a grandeza do homem que era. Tinha tantos pelos no rosto quanto responsabilidades em alto mar. De longe, sob a risca dos últimos raios do dia no horizonte, seu corpo rígido, preso às cordas da jangada, avultava brilhando. Os músculos retesados dos braços, que se contrastavam a cada movimento, vinham presos à pele queimada do sol de um ano inteiro, e trazia um corpo quente e um rosto firme coberto por cabelos lisos e dourados.
De uma meninice indecifrável, era alguém de quem conseguia arrancar fácil qualquer segredo. Narrava ímpetos sem a deformidade da vergonha. Era tão espontâneo que causava em mim certa confusão; trocava a ordem das análises, do julgamento: seria ele ingênuo ou puramente verdadeiro? Não havia pressa, em mim, para saber, pois as horas passavam calmas até que eu pudesse avistá-lo distante no mar. Aquele silêncio preenchido, à espera surdina, por algo ainda abstrato por fim traziam até mim a recompensa, por aguardá-lo, de confissões abrigadas em um sorriso triste e duradouro.
Alecto Grego