Fragmento 8


Trazia naturalmente consigo um gingado com efeito de feitiço antigo, como sortilégio natural de quem nasce em solo sagrado da Bahia, e sem conseguir disfarçar a malandragem em um olhar de malícias, dizia-me coisas, de longe, que o ouvido tencionava ouvir. Sua voz era quente, impregnada de um sotaque arrastado numa fala cadenciada pela manemolência: fazia questão de se exibir, equilibrando com desenvoltura uma bola entre duas pernas mestiças desnudas e um torso firme que sustentava o corpo. Naqueles dias de calor, que sucediam à beira do rio, pairava-me a dúvida se aquela era a única veste que dispunha ou se tinha como única intenção atrair indistintos olhares para um conjunto arranjado de membros firmes e queimados de sol. Mantinha porte atlético de quem era adepto a esportes, denunciava suas panturrilhas firmes, que se desenvolviam robustamente para além do quadril e o joelho; e os movimentos que ganhavam lances vultosos, antes velados. Mas, talvez, fosse o sorriso largo e despretensioso que cativava em mim tamanho entusiasmo e afrontamento. Ele era o meu oposto em tudo, um capataz dócil com desígnio, e por isso rebuscava o lado mais profundo do meu inconsciente. E com a mesma simplicidade que viera a mim, fora de uma vez. Partira descalço e com o mesmo sorriso rasgado em uma tarde chuvosa. Sumira na vida sem me dar explicação.

Alecto Grego