Fragmento 13
Como todo adolescente, ele tinha pressa em envelhecer. Ao contrário dele, eu ia na contramão de uma filosofia fluida e sempre dizia que era um insulto do tempo vê-lo se tornar mais velho. Gostaria de que permanecesse sempre como o meu garoto. Dizia que não era justo comigo e com tudo que eu sentia — uma espécie de fraternidade e medo de não mais viver aqueles momentos servidos a chocolate e confissões. Sua cólera pairava a minha sombra ao me ver obrigado a negar a contar tudo — e em detalhes — o que já havia se passado comigo. Mesmo eu tendo dito, palavra por palavra, que as nossas histórias nem sempre apenas nos pertencem. É bem provável que este tenha sido o motivo principal para eu ser proibido de tocá-lo por algumas horas seguidas naquele mesmo dia — o que me fazia aproximar dele instantaneamente, quase o tocando a poucos centímetros, e dizer em tom de advertência cautelosa: “eu não te toquei...”. Seguia passos matreiros de uma pirraça insistente: “eu preciso te dizer uma coisa: isso tem nome e se chama BRA-BE-ZA!”, anunciava, categorizando seu comportamento e já me esquivando de um golpe certeiro. Aquilo o deixava irado de uma forma indescritível, e era como se eu o desafiasse em tom jocoso. O seu estado blasé, outra face de sua personalidade, encantava-me a ponto de provocar em mim risos espontâneos; foi então que percebi que aquele garoto já fazia parte das melhores memórias da minha vida.