Aforismos de Alecto (prefácio)


PREFÁCIO

Aforismos de Alecto é um repositório de fragmentos que serviriam a priori de força vital de comando (ou proibição) de ousar na ação do pensamento, ainda que de forma abstrata. O eu-lírico então atravessa o abismo da existência em uma corda bamba e titubeia entre lados indefinidos, convertidos em escritos, sob uma tessitura filosófica existencialista, em linhas nem tão certas, nem tão tortas, que explora o cotidiano do inconsciente masculino e se posiciona acima do bem e do mal. Isenta-se, portanto, de qualquer moralidade do tempo em que foi escrito. O autor, nesse sentido, procura estar além do que é palpável e palatável, não se eximindo do imaginário individual em uma compilação de textos que transcende meramente o que é literatura e transita entre percepções físicas e intelectivas - como o prazer e a abstração -, erguidas dentro de um constructo individual. Este livro é formado por partículas de textos desmontáveis e independentes, com estrutura enxuta e rigorosa, alguns inconclusos, o que possibilita ser aberto em qualquer página para ser lido – e isso pode surpreender o leitor. Abra-o e leia-o avulsamente. Nesta culminância fragmentada, a voz que confidencia se dedica com honestidade brutal a cada relato inquietante, sempre em tom confessional, que reunidos acabam por desnudar os estados da consciência e da imaginação criadora como busca de satisfação dos ímpetos carnais e espirituais, trazidos pela existência humana. Ao se lançar com tamanha liberdade, tão intensa que provoca em si sensação de esgotamento e intimidade do eu-poético, as declarações se fundem à prosa poética acurada e repleta de impressões. Se são aforismos ou simplesmente fragmentos de prosa poética – pela natureza da obra –, a produção evidencia paradoxos e ilusões do sentido. Revela já no título a tônica de uma composição de caráter subjetivo que desfaz toda e qualquer quietude da alma humana. Diante desse flagrante, o autor se propõe a ir além dos limites da libido, do inconsciente e expõe intensa e sutilmente relações interpessoais entre indivíduos que vivenciam fenômenos de cunho meramente existencial. A oposição existente entre o maravilhoso e o banal e sua relação com os mais diversos impulsos traz, na forma fragmentária, intuições oriundas da mente inquietante do próprio eu.